Uma escolha. Uma foto significativa que marque a história do ofício de fotógrafo em Natal, no Rio Grande do Norte. Foto que honre a categoria pela qualidade técnica do trabalho, pelo profissionalismo de excelência. Pela história que encerra.
Natal, 1904. Cidade em festa, ainda a comemorar o aterro do Salgado, braço de Potengi a invadir a margem direita, separando os dois únicos núcleos populacionais que abriga: Cidade Alta e Ribeira.
No lugar do alagado do Salgado, inóspito, sujo, a trazer doenças, pestes, mortes, vergonha, uma praça a encher de sonhos de modernidade uma gente que discutia, sugeria, reivindicava aformoseamento urbano para tão pequenina capital, dez mil almas vivas a vagar, se muito.
Do sul, Paraíba e Pernambuco, chegava a majestosa e apitante Catita, ali, adiante, maria-fumaça a puxar vagões de passageiros e cargas chegados à Estação Ferroviária da Great Western. Cidade feliz a desenvolver-se, a acordar de anos sem conta de muita espera pelo seu crescimento.
Etapa de arborização concluída, era deixar ao tempo para ver a agradável formosura florida de suas sombras, a beleza e os aromas de canteiros cientificamente planejados, terra a receber a semente de escolha; praça a homenagear filho herói, Augusto Severo, morto em céus de Paris em desastre do balão dirigível que criara, o primeiro do mundo conduzido pela mão humana, orgulho nosso.
É quando começa a avolumar-se nela a gente que chega tangida dos interiores castigados pelo sol causticante, inclemente, sem pingo de água que molhe o chão: os miseráveis flagelados da seca.
População em número igual ao da cidade é essa população sedenta, faminta, aos trapos, sem nada.
Assaltos, saques, desordens começam a tirar a tranquilidade da cidade em lua-de-mel com sua praça; com os seus sonhos.
Como dar de comer e beber a tanta gente? Como conseguir trabalho, emprego, renda para tantos de uma só vez?
Pior, como resolver os problemas sanitários criados por tão denso contingente humano ali acampado? Como assistir aos que caíam em pestes contagiosas, em ambiente tão favorável à disseminação?
Natal vivia o pânico.
É quando eles se reúnem em assembleia e decidem subir a rua da Ladeira, a que une Ribeira e Cidade Alta, a rua da Cruz, Junqueira Ayres, em meio a qual, um pouco abaixo da Capitania dos Portos, reside o governador Tavares de Lyra.
Eles exigem providências.
Essa a foto escolhida para simbolizar o Dia do Fotógrafo Potiguar.
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